Lembro-me por
diversas vezes ter ouvido da voz forte e rouca de Cássia Eller: o pra sempre,
sempre acaba! O ponto de exclamação tira toda e qualquer dúvida nesse sentido.
Todos nós, humanos, procuramos alguém para dividir o algo mais que possuímos.
Martin e Mariana, protagonistas do filme:"Medianeras" também. São jovens amedrontados
e acomodados, como a maioria dos jovens
de hoje.
A rede virtual
nos possibilita um falso status. Nos classificamos como seres descolados por
sermos escravos da tecnologia. Perdemos com o tempo o hábito da escrita. Mas,
para que escrever se eu posso me limitar a mandar mensagens falando por monossílabos? Estou conectado com
milhares e milhares de pessoas disfarçadas que falam e escrevem o que eu quero
ler ou ouvir. Não preciso ser criticado ou elogiado. Não preciso sequer olhar
para minha imagem no espelho. Ninguém se interessa pelo meu “eu”, por aquilo
que realmente sou. Bauman no seu Amor
líquido afirma que a epidemia de aparelhos celulares evita que as pessoas se
olhem nos olhos. Com o tempo nos olhamos e não nos vemos mais. Mariana,
protagonista do filme, passou quatro anos em um relacionamento em que não havia
o olhar. Numa cidade como Buenos Aires, a tecnologia é sempre aquela terceira
figura inconveniente em uma relação, onde, decididamente só cabem duas.
Os personagens
do filme nos trazem a sensação de tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Mariana
e Martin são vizinhos e solitários. Todavia, os poucos metros que os distanciam
tornam-se maiores do que o número de pessoas que dividem espaço em um bate-papo
na web. É contraditório e chocante. O risco do desconhecido é atraente e ao
mesmo tempo causa pânico. O que fazer? Simplesmente, desligar o computador.
Bauman também
cita que a realização mais importante da proximidade virtual parece ser a
separação entre comunicação e relacionamento. Não consigo de fato executar essa
divisão com tanta destreza. Ao contrário do autor discordo quando ele afirma
que apostar as fichas em um só número é o máximo de insensatez. Não creio que
buscar algo que se deseje seja um gesto sem razão. Sofrer ou decepcionar-se com alguém nos
mostra que estamos vivos. Temos que tirar lições de nossos erros e acreditar que
amanhã será sempre melhor que hoje.