segunda-feira, 4 de março de 2013

"O Amor Líquido" no filme "Medianeras"



Com quantas pessoas por dia você conversa pessoalmente? E por mensagem de celular? E pelo bate-papo do facebook? Talvez a resposta para as duas últimas perguntas seja um número maior do que o respondido na primeira. Nada estranho (estranho seria se você não tivesse celular ou não tivesse uma conta no facebook), afinal vivemos na era da modernidade, onde a internet deixou de ser uma opção para ser uma forma de refúgio. Segundo Zygmunt Bauman: “Dentro da rede, você pode sempre correr em busca de abrigo quando a multidão à sua volta ficar delirante demais para o seu gosto.” Quando nos sentimos sós, insignificantes e tão pequenos para um mundo tão grande, recorremos à internet. Era exatamente o que Martín, personagem do filme Medianeras, fazia. Ele se sentia deslocado do mundo real e só se encontrava no mundo tecnológico. Amizades, conversas, sexo, ler, pagar contas, escutar música, comprar comida, alugar e ver filmes, estudar, jogar... Tudo ele tinha pela internet. Segundo ele, “A internet o aproximou do mundo, mas o distanciou da vida”. Martin estava tão preso a esse mundo tecnológico que não sabia mais como se relacionar interpessoalmente. Bauman exemplifica isso na seguinte frase: “Quando a qualidade o decepciona, você procura a salvação na quantidade. Quando a duração não está disponível, é a rapidez da mudança que pode redimi-lo”. A partir do momento que Martín começa a se envolver pessoalmente com alguém ele não se encaixa na forma da pessoa, logo a qualidade o decepcionou e ele vai atrás da quantidade: se relaciona com algumas pessoas por um curto espaço de tempo, afinal essa rapidez de mudança é o que pode redimi-lo.




        Aos que se mantêm à parte, os celulares permitem permanecer em contato. Aos que permanecem em contato, os celulares permitem manter-se à parte...” Na primeira frase deste trecho elaborado por Bauman evidenciamos exatamente o que ocorre com Martín. Ele vive à parte do mundo, se sente isolado e insignificante, a única forma de se aproximar desse mundo tão estranho e tão desconhecido por ele é pela internet. Já na segunda frase, evidenciamos isso na personagem que mantém uma relação casual com Martín. Ela estava tão próxima a ele, porém, ao mesmo tempo, tão distante... Importando-se mais com quem estava conversando por mensagens pelo celular do que com alguém que estava ali, tão perto dela e tão disponível para ela.

           Mariana mantém uma relação conturbada com seu ex-namorado, como vemos no filme. Ela não consegue largá-lo, nem ser totalmente verdadeira com ele e falar que não o quer mais, prefere fugir e deixar por isso mesmo. Mas e se fosse pela internet? Seria bem mais fácil o término dessa relação. Ela poderia simplesmente apertar o botão de excluir ou bloquear e nunca mais manter qualquer relação que fosse, pois existiriam mais inúmeros contatos disponíveis. Seria como Bauman citou: “É como folhear um catálogo de reembolso postal que traz na primeira página o aviso “compra não-obrigatória” e a garantia ao consumidor da “devolução do produto caso não fique satisfeito””.



        Martín e Mariana estavam tão perdidos no mundo real que se deixavam ser engolidos por um mundo fictício. Ele o da internet e ela no meio dos seus manequins. Mas quantas pessoas também não estão tão perdidas quanto eles? Quantas pessoas se deixam ser engolidas pelo que é considerado atual e moderno? Tudo isso não é um absurdo, muito menos é impossível. É fácil quando discutimos sobre esses assuntos e colocamos a culpa na tecnologia ou nas pessoas. Não existem culpados. A tecnologia não te obriga a largar seus amigos, nem suas relações interpessoais. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas se acomodam sem o próprio consentimento. Afinal é mais seguro se envolver com a internet e na internet, pois as decepções são menos possíveis, o botão de “excluir” ou “bloquear” estará sempre lá. Bauman reflete sobre tudo isso: “Seria tolo e irresponsável culpar as engenhocas eletrônicas pelo lento mas constante recuo da proximidade contínua, pessoal, direta, face a face, multifacetada e multiuso. (...) Não admira que a proximidade virtual tenha ganhado a preferência e seja praticada com maior zelo e espontaneidade do que qualquer outra forma de contiguidade. A solidão por trás da porta fechada de um quarto com um telefone celular à mão pode parecer uma condição menos arriscada e mais segura do que compartilhar o terreno doméstico comum”.



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