SOLIDÃO EM MEIO À MULTIDÃO

                                 

     Impressionante as mudanças que ocorreram nas relações sociais nas últimas décadas, principalmente com o surgimento da internet e das novas tecnologias. Agora estamos em um mundo totalmente conectado, onde as pessoas fazem tudo pela rede.  Mas o que deveria aproximar as pessoas, acaba deixando-as cada vez mais isoladas .       

     Tanto o filme ‘Medianeras’  do diretor Gustavo Taretto, como o texto ‘Amor líquido’  de Zygmunt Bauman,  mostram essas mudanças.

Uma frase muito interessante que li no texto de Bauman foi a seguinte:

“ Aos que se mantêm  à parte, os celulares permitem permanecer em contato. Aos que permanecem em contato, os celulares permitem manter-se à parte...” 

     Acredito que muitos de nós conseguimos nos identificar com esta frase, é realmente o que acontece nos dias atuais. Tanto quando estamos em meio à dezenas de amigos e mesmo assim não conseguimos nos desconectar dos aparelhos celulares, e também ao contrário, quando estamos sozinhos, mas eles conseguem nos deixar conectados com as outras pessoas.      Vemos isso em Medianeras,  quando Martin sai com uma garota e eles mal conversam, ela se mantém sempre ‘à parte’ com seu aparelhinho, trocando mensagens com outras pessoas e deixando de lado quem realmente está ao seu lado.

     Antigamente o primeiro contanto entre um casal era ‘real’, a internet era último recurso. Assim como no filme, hoje  muitas pessoas se conhecem pela internet e só depois pessoalmente. Bauman diz que isso acontece porque a internet trás uma certa segurança às pessoas. Segurança de poder se manter à parte quando quiserem, e a facilidade de acabar a qualquer momento com vínculos que estas não queiram mais manter.  Pessoalmente é bem mais difícil dizer a alguém que não quer mais ser seu amigo, enquanto ‘lá’ é só apertar um botão. Não precisa olhar no olho.

     Acredito que o ‘’amor líquido’’ representa justamente esta fragilidade dos laços humanos, a flexibilidade com que estes são substituídos.

     Em  Medianeras, Martin e Mariana moram de frente um ao outro, passam pelos mesmos lugares mas não conseguem se enxergar. Só conseguem se relacionar via internet. Se conhecem online, mas na vida offline se cruzam sem saber da existência um do outro.  Podemos perceber a questão de se manter à parte na cena em que ele à sugere várias perguntas que não comprometerão em nada sua privacidade, mas ela resolve perguntar o que ele fez durante o dia, o que o deixa surpreso e desconcertado.

 Medianeras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual (Trailer legendado)