terça-feira, 5 de março de 2013

A Rede

Martin e Mariana.
Os rostos, dele e dela, mostravam-se ao mesmo tempo ligados e desconectados deste mundo. Perdidos, seus olhares - ironicamente - estavam sempre mapeados de luzes absurdamente coloridas de ecrã.
Aquele, não dormia bem nunca. Aquela, não vivia bem jamais.

Ao menos que você esteja lendo este texto em algum tempo remoto do século passado ou data anterior (se sim, consulte 'ecrã' no Google), é bastante provável que tenha-se identificado com a história central de Medianeras, resenha do diretor argentino Gustavo Taretto sobre os relacionamentos e fobias modernas.
De fato, o romance desenvolvido - lentamente - entre Mariana e Martin se parece em muito com a vida de qualquer um de nós, jovens do século XXI. Já virou clichê em jantares de família - daqueles chatos, com gente chata, sem comidas bonitas e oportunidades de fotos para o Instagram - dizer que a internet tem promovido, como nunca, a comunicação, que é incrível como tem aproximado pessoas distantes geograficamente, mas também é culpada (pobre internet) por distanciar as pessoas mais próximas. Já virou clichê, mas é rigorosamente o que está acontecendo. E não sou eu quem está dizendo.
Zigmund Bauman também afirma que "a realização mais importante da proximidade virtual parece ser a separação entre comunicação e relacionamento. Estar conectado é menos custoso do que estar engajado".
A grande questão parece ser a seguinte: o jovem procura a internet para fugir do meio? Ou tem medo do meio por usar a internet em demasia? Medianeras não responde, necessariamente, essa questão. Mas deixa claro, ao menos em minha visão, que:

  1. o retrato do nosso presente parece aterrador;
  2. Bauman não tem Facebook;
  3. a comunicação moderna mais parece cumprir o papel de separar do que o de unir.

e em aberto, algumas outras questões:

  1. será que o processo em que nos metemos nessa rede e paramos de viver o mundo real é irreversível?
  2. se Bauman tivesse Facebook, atualizaria seu status de relacionamento?
  3. estamos sozinhos na multidão, mas nos colocamos deliberadamente nessa situação ou desejamos, no fundo, nos relacionar?
Eu acredito que desejamos, sim. E você?
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