sábado, 2 de março de 2013

Próximos, porém distantes


"Uma mensagem brilha na tela em busca de outra. Seus dedos estão sempre ocupados: você pressiona as teclas, digitando novos números para responder às chamadas ou compondo suas próprias mensagens. Você permanece conectado — mesmo estando em constante movimento, e ainda que os remetentes ou destinatários invisíveis das mensagens recebidas e enviadas também estejam em movimento, cada qual seguindo suas próprias trajetórias."

 Zygmunt Bauman

 

Você consegue imaginar sua vida há alguns anos atrás? Nos tempos em que você não apalpava sua bolsa ou bolso toda vez que saía de casa para comprovar que seu precioso instrumento de se comunicar e interagir com o mundo realmente está lá ou naqueles tempos em que falar pessoalmente era mais divertido que "falar" por teclas ou telas, onde as expressões eram tão importante quanto as palavras. Não faz tanto tempo assim que mudamos alguns padrões de comportamentos, mas isso já é notado claramente em nossa sociedade.

No filme Medianeras acompanhamos a vida de dois jovens que vivem imersos em seus próprios mundos de uma maneira que não notam os outros e nem um ao outro, mesmo eles tendo tanto em comum.

Bauman diz que "quando a qualidade o decepciona, você procura a salvação na quantidade". Isso é visto bastante hoje na forma de "excesso de estímulos". Ao mesmo tempo em que você almoça também lê o jornal ou olha as notícias no celular, conversa com um grupo de pessoas ao mesmo tempo que manda mensagem para outro alguém do outro lado da cidade ou tenta dormir, mas seu cérebro não consegue se desconectar, e você acaba pegando o celular ou voltando para o computador. No filme é possível ver esse excesso no momento em que Martin dorme pouquíssimo e volta para o computador, onde lá consegue enxergar um mundo de possibidades para fazer o que quiser, como comprar, trabalhar, se divertir e se relacionar. Como ele mesmo diz: consegue fazer tudo pela internet.


Bauman também cita que "aos que se mantém a parte, os celulares permitem permanecer em contato. Aos que permanecem em contato, os celulares permitem manter-se à parte". Tanto os celulares quando as próprias redes sociais nos fazem ter esse sentimento: estar próximos das pessoas, mesmo estando cada um em sua casa, sozinho.

No filme é possível perceber isso através de uma personagem: a garota que passeia com os cachorros, com a qual Martin se relaciona, ela não consegue viver por completo o momento em que está com ele, ela passa o tempo todo com o pensamento em outro local e enviando sms para outra pessoa.

 Outra citação de Bauman interessante que se encaixa em um momento do filme é a que na internet tudo se dá de forma mais fácil do que realmente é na vida real, principalmente no caso dos namoros. Na internet você pode "terminar quando se deseje - intantaneamente, sem confusão, sem avaliação de perdas e sem remorsos - é a principal vantagem do namoro pela internet. Reduzir riscos". No filme Martin até tem vontade de se relacionar com alguém e, por isso, vai a um site de encontros e, ao ver alguém que ele achasse que fosse compatível com ele, se decepciona ao conhecê-la na vida real e percebemos como foi fácil esse desprendimento, ele simplesmente não se comunica mais com ela. Como é usado hoje: "dar block", ou seja, bloquear a pessoa para que ela não se comunique mais com você. Simples.

O filme Medianeras mostra diversas citações de Bauman postas em prática e é uma ótima forma de refletirmos sobre como estamos vivendo nossa vida convivendo com tantos meios de comunicação que interferem tanto na nossa relação com o outro.


Nota adicional
Achei curiosa a atitude de um amigo. Ele excluiu seu facebook nas férias e, ao voltarem as aulas, todos o perguntaram o por quê dele ter "sumido" e, ao ser questionado por qual motivo ele decidiu excluir seu perfil  respondeu: eu estava me sentindo diferente por passar tanto tempo em frente a tela do computador e por passar tanto tempo conectado ao facebook, então decidi sair de dentro de casa e falar um pouco com as pessoas na rua e tive uma surpresa ao perceber a minha rua, que sempre tinha muita gente nas calçadas, estava deserta, com cada um em sua casa, em seu próprio mundo, em seu próprio computador. Quando vi isso me dei conta do que estava acontecendo e refleti sobre mim mesmo, então decidi excluir meu facebook e, posso garantir que aproveitei bem mais minhas férias.

Não que todos devam fazer isso, nem eu pretendo fazer o mesmo, mas é um bom questionamento a se fazer.

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