terça-feira, 5 de março de 2013

Onde está o Wally?



O filme Medianeras aborda a busca do indivíduo pós-moderno pela alma gêmea, numa realidade em que as relações pessoais se tornaram cada vez mais rasas e frouxas.

Com a mesma rapidez com que iniciamos uma relação com alguém, com apenas um toque numa tela podemos descartar. Nessa busca constante, muitas vezes inconsciente, somos ensinados a direcionar a potência sexual nas atividades culturais do dia-a-dia, como o trabalho e estudo. Porém, atualmente, a maioria das atividades sexuais são permitidas socialmente, tornando o indivíduo livre para direcionar sua potência produtora muito mais para a vida sexual, caso queira. É o que acontece com Martin, personagem do filme em questão, que faz do virtual o real, e além de "fazer sexo pela internet" (como ele diz), o personagem busca nas ferramentas de comunicação virtual uma companheira, assim como Mariana, que além de participar de encontros românticos, acaba procurando na internet sua alma gêmea, metaforizada como Wally, personagem de livro de ilustração que se esconde em meio à multidão. Essa é uma realidade muito diferente da sociedade antiga, como podemos observar no texto "Amores Líquidos" de Bauman:

"Parece que o elo entre a sublimação do instinto sexual e sua repressão, que Freud considerava
condição indispensável de qualquer arranjo social disciplinado, foi rompido. A líquida sociedade moderna descobriu uma forma de explorar a propensão/ receptividade humana a sublimar os instintos sexuais sem recorrer à repressão, ou pelo menos limitando-a radicalmente. Isso aconteceu graças à progressiva desregulação do processo sublimatório, agora difuso e disperso, o tempo todo mudando de direção e guiado pela sedução dos objetos de desejo sexual em oferta, e não por quaisquer pressões coercitivas."

Essa nova realidade é também vista quando o filme aborda a relação entre Martin e a garota contratada por ele para andar com seu cachorro. Os dois estabelecem entre si uma relação superficial de total interesse sexual. As relações superficiais e suas possibilidades de quantidade e rapidez de mudana funcionam como uma válvula de escape para os decepcionados com a qualidade.

O computador e o celular são abrigos para não se encarar a multidão real, e o espaço virtual fica superpovoado de pessoas que não querem encarar a vida real, e que buscam relações da forma mais fácil e rápida possível. O ser humano está sempre em busca de algo ou alguém que lhe passe a sensação de completude, e ao longo do tempo, mudanças sociais acontecem, plataformas mudam, mas no final todos queremos a mesma coisa: Achar o Wally.



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