domingo, 9 de abril de 2017

A muralha

                                                                      Foto: José Mesquita

Fortaleza se ergue para mim em 1991, na Cidade dos funcionários, um bairro residencial, que tinha como seu principal atrativo o Lago Jacarey. Era considerado um local pacato, mas logo descobrimos que nossa fortaleza não era tão segura assim. Após uma invasão e furto de pertences da nossa morada, demos início a uma diáspora para outro território da capital, este com muros mais altos e fortificados.
Há 20 anos fincamos nossas raízes em mais um bairro que julgávamos ser pacato, mas acho que poderíamos vagar tanto quanto os hebreus em busca da terra prometida e jamais iríamos encontrar, a desigualdade não permite, nós com nossos muros altos, fortalezas dentro de Fortaleza não permitimos. Pois bem, nosso novo velho lar se chama Guararapes, ou não, acho que decidiram homenagear um grande empresário e decidiram mudar o nome do bairro, homenagem essa que faz sentido, uma vez que o bairro está em um processo de verticalização que faria inveja as cidades medievais com seus muros protetores. Outra ironia do destino é a nossa orla, que também recebeu um vasta muralha em sua “área nobre”, acho que as empreiteiras quiseram homenagear o forte que deu origem a capital cearense e acabaram se empolgando demais, impedindo até o vento de passar, isso, até ele foi barrado.
Não lembro de muitas brincadeiras nas ruas quando mais novo, isso só era mais praticado nas viagens para o interior. Hoje sair para andar na rua e voltar inteiro é um ato que muitos comemoram. Triste. Se a desigualdade já impera na fortaleza, os muros altos só contribuem mais e mais para o seu aumento, aqui os espaços fechados são abertos e os espaços abertos são fechados. Temos que ocupar.

Por: Italo Oliveira

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