segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Parado em seu novo Lugar

A mente está sempre no local de partida ou chegada, quase nunca no seu trajeto. Com as passagens em mãos, o voo marcado e vidas resumidas em malas limitadas, os passos são rápidos e determinados a chegar logo em seu objetivo. No longa-metragem O Terminal (The terminal, 2004), o espaço destinado somente à passagem, tira a nomenclatura negativa da sua característica de não-lugar.

Tom Hanks, sob a direção de Steven Spielberg, encarna o personagem Viktor Navorski, cidadão de lugar nenhum. Enquanto o seu avião sobrevoava ao país norte-americano, a sua pátria sofre um golpe político e o seu passaporte passa a ser inválido. Vendo-se impedido de entrar na América, torna o aeroporto Kennedy, em Nova Iorque, o seu local de refúgio e, literalmente, de passatempo. Mais do que isso, ele incorporou a essência flâneur e mal sabia.

Ele não mais via os salões como os mesmos. O que poderia passar despercebido pelos olhos distraídos dos passageiros, foi usado, por ele, como artifício para sobreviver em um ambiente criado para ser apenas de fluxo. As cadeiras tornaram-se cama, as torneiras do banheiro, chuveiro e os carrinhos, um meio de conseguir dinheiro para se alimentar.

Além disso, tanto os estranhos que também faziam daquele não-lugar em um lugar, como os outros transeuntes perdidos na multidão, foram captados pela percepção de Viktor. Ele começou a observar suas rotinas e refletir sobre elas. Como um flâneur contemporâneo, trocou as calçadas e as praças públicas de grande circulação por um espaço de concreto, de intensa circulação de diferentes pessoas.

Esse ser vagabundo, em sua origem, aceita a modernidade na qual nasceu e vive. Dessa mesma forma, o homem original de Krakozhia, quando se viu sem país e preso ao aeroporto, tornou o novo espaço em sua casa, em sua modernidade, e aceita-a. Começa a ver a beleza escondida nos destalhes que ninguém consegue ver, por estarem presos naqueles passos rápidos de chegada ou partida.

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