quinta-feira, 23 de agosto de 2012

ATENÇÃO: evite abraços apertados.


            “Medianeras” retrata de uma forma lúdica alguns assuntos discutidos por Zygmunt Bauman em “Amor Líquido”. O texto do escritor é afiado, pesado, mas no filme podemos ver o quão real é esse “tempo de amor virtual”. A história é sobre Martin e Mariana, dois jovens que há pouco saíram de relacionamentos complicados e têm dificuldade em se relacionarem com novas pessoas. É justamente esse receio que os faz “evitar abraços muito apertados”, assim como sugere Bauman. Segundo ele, os tempos líquidos em quais vivemos demandam um desapego que resulta em uma fragilidade dos laços que mantemos. Mariana sai com um rapaz e acaba fugindo do encontro, antes mesmo de dar uma chance de conhecer melhor a pessoa. Uma cena marcante acontece logo após, quando ela simula o ato sexual com um manequim e depois avisa: “não se iluda, foi só sexo.”
            O fato de mantermos laços fracos gera uma necessidade de estarmos sempre conectados, de ter com quem interagir quando nos sentimos solitários. Isso fica bem evidente quando a garota que Martin conhece quando passeia com seu cachorro começa a se envolver superficialmente com ele, indo à sua casa e tendo relação sexual sem trocar muitas palavras. Durante o tempo que passam “juntos”, ela fica o tempo todo respondendo a mensagens no celular, que são de outra pessoa com quem ela mantém um relacionamento “íntimo”. Percebemos aqui o que Bauman diz sobre o amor líquido: “quando a duração não está disponível, é a rapidez da mudança que pode redimi-lo.” Procuramos ter múltiplas opções através de dispositivos que unem os que estão longe e separam os que estão perto. 
            Mariana e Martin, que vivem vidas paralelas, mas simultaneamente passam pelo mesmo problema, acabam se conhecendo na internet, embora sejam vizinhos. Isso me fez pensar naquela rede-social que conhecemos há pouco, a Cromaz. O nosso primeiro contato hoje em dia é o virtual, é o ponto de partida. De acordo com Bauman, a internet nos proporciona a oportunidade de “namorar” sem que isso afete diretamente o mundo real. “É como folhear um catálogo de reembolso postal que traz na primeira página o aviso de ‘compra não obrigatória’”; é a chance de testar antes de usar. Pesquisar antes de se envolver. Correr menos riscos de se machucar.

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