“Medianeras”
retrata de uma forma lúdica alguns assuntos discutidos por Zygmunt Bauman em “Amor
Líquido”. O texto do escritor é afiado, pesado, mas no filme podemos ver o quão
real é esse “tempo de amor virtual”. A história é sobre Martin e Mariana, dois
jovens que há pouco saíram de relacionamentos complicados e têm dificuldade em
se relacionarem com novas pessoas. É justamente esse receio que os faz “evitar
abraços muito apertados”, assim como sugere Bauman. Segundo ele, os tempos
líquidos em quais vivemos demandam um desapego que resulta em uma fragilidade
dos laços que mantemos. Mariana sai com um rapaz e acaba fugindo do encontro,
antes mesmo de dar uma chance de conhecer melhor a pessoa. Uma cena marcante
acontece logo após, quando ela simula o ato sexual com um manequim e depois
avisa: “não se iluda, foi só sexo.”
O fato de
mantermos laços fracos gera uma necessidade de estarmos sempre conectados, de
ter com quem interagir quando nos sentimos solitários. Isso fica bem evidente
quando a garota que Martin conhece quando passeia com seu cachorro começa a se
envolver superficialmente com ele, indo à sua casa e tendo relação sexual sem
trocar muitas palavras. Durante o tempo que passam “juntos”, ela fica o tempo
todo respondendo a mensagens no celular, que são de outra pessoa com quem ela
mantém um relacionamento “íntimo”. Percebemos aqui o que Bauman diz sobre o
amor líquido: “quando a duração não está disponível, é a rapidez da mudança que
pode redimi-lo.” Procuramos ter múltiplas opções através de dispositivos que unem os que estão longe e separam os que estão perto.
Mariana e
Martin, que vivem vidas paralelas, mas simultaneamente passam pelo mesmo
problema, acabam se conhecendo na internet, embora sejam vizinhos. Isso me fez
pensar naquela rede-social que conhecemos há pouco, a Cromaz. O nosso primeiro
contato hoje em dia é o virtual, é o ponto de partida. De acordo com Bauman, a
internet nos proporciona a oportunidade de “namorar” sem que isso afete
diretamente o mundo real. “É como folhear um catálogo de reembolso postal que
traz na primeira página o aviso de ‘compra não obrigatória’”; é a chance de testar
antes de usar. Pesquisar antes de se envolver. Correr menos riscos de se
machucar.
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