segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Medianeras, ou a fobia na hipermodernidade

"Sua ansiedade pode ser atribuída a seus efeitos e desfeitos, e procurariam (e certamente encontrariam os erros cometidos ao longo de suas vidas): pouca autoconfiança, autoproteção, ou autoadestramento."

E é assim que começa a narrativa de Medianeras. Mariana, arquiteta que não exerce a profissão, com fobia de elevador, prefere subir 8 andares de escada e é insegura quanto à novos relacionamentos após o último rompimento. Prefere se relacionar com seus manequins a sair de casa. Martin, desenvolvedor de sites que evita sair de casa até para comprar comida, tem fobia de multidões, pessoas, relacionamentos e procura a maior distância possível do mundo real, se relacionando com ele através da fotografia, por sugestão de seu psiquiatra.

"Não importa onde você está, quem são as pessoas à sua volta e o que você está fazendo nesse lugar. A diferença entre um lugar e outro, entre um grupo e outro de pessoas ao alcance de sua visão e de seu toque, foi suprimida, tornou-se nula e vazia. (...) Você sempre pode apertar a tecla para deletar"

Mariana e Martin andam pela cidade cada um em seu mundo. Ele, com fobia de avião, trem, ônibus, só se desloca a pé e olha as pessoas através de sua máquina fotográfica. Hipocondríaco e solitário, recebe seus exames em casa e primeiro pesquisa sobre os resultados na internet antes mesmo de consultar um médico. Ela, depois do último relacionamento, simplesmente deletou todas as fotos do casal com apenas um clique no seu computador. 4 anos de relacionamento acabaram assim. Agora, nas vitrines, trabalha e observa sem ser notada, e se sente confortável por não ter contato pessoal de nenhum tipo.

Ela e ele, apesar de frequentarem a mesma escola de natação, morarem na mesma rua e conseguirem se ver através das janelas, só estabelecem um primeiro contato através da internet. E um contato verdadeiro, sem fobias, medos ou máscaras, sem fugas precipitadas ou frustrações sexuais.
Na segurança - que parece ser a palavra de ordem da nossa modernidade líquida e o que mais os protagonistas do filme buscam - do lar, através da tela do computador, eles se sentem à vontade para conversar e serem honestos, sem as desconfianças habituais que acompanham os inícios de contatos reais.

Sem imaginar que aquele(a) estranho(a) com quem logo se encontrariam comprando velas era a mesma pessoa de instantes atrás, separando-se sem trocar uma palavra, mal tomando conhecimento um do outro, na esparança de voltar a falar com aquele anônimo virtual sem correr maiores riscos, mais uma vez eles se deixam escapar.

O filme retrata bem alguns conceitos apresentados por Bauman em Amor Líquido, ao retratar a virtualidade das relações, as conexões cada vez mais breves e banais entre as pessoas, as dificuldades de se criarem laços por conta disso e o distanciamento físico criado para facilitar o estabelecimento e rompimento das relações sem maiores esforços e prejuízos para as partes envolvidas.





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