sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Pipoca, Medianeiras e Bauman.



O filme Medianeiras, que pode ser encaixado na categoria de comédia romântica, pois vem contar a história de dois jovens solitários, que moram tão próximos, mas não se conhecem, e que só precisam de uma mãozinha do destino para finalmente se encontrarem e começarem uma nova história de amor. O filme gira se desenrola com base no relacionamento entre os personagens: Martin, Mariana e a Cidade.



O jovem Martin (Javier Drolas), um aficionado por internet e reduziu sua vida a um minimalismo extremo. Pelo computador, Martin pede comida, faz compras e entra em sites de relacionamentos, nos quais conversa com mulheres tão estranhas como, em resumo ele tem grandes dificuldades em se desconectar do mundo virtual. Sua única companhia é um cachorro deixado por sua ex-namorada.

E a jovem Mariana (Pilar López de Ayala, de Lope), que recentemente saiu de um relacionamento. Tem fobia de elevadores, ela constrói manequins para uma loja de roupas e cuida da decoração das vitrines. Esses manequins masculinos, que ela veste e despe diariamente, acabam se tornando seus objetos de afeição.

Outro personagem tão importante quanto os outros 2, é a cidade, e podemos constatar isso através do nome do filme, Medianeiras (Paredes cegas e sem janelas dos edifícios) e depois também durante o desenrolar da história podemos ver as diferenças de estilos arquitetônicos e o caos urbano. Ás vezes somos levados a pensar que a cidade se interpõe no romance deles.

A história tem características de uma comédia romântica, pois temos duas pessoas se conhecem, mas apesar da atração óbvia que existe entre elas, não se envolvem romanticamente por algum fator interno ou por alguma barreira externa, como o fato de um deles ter uma relação amorosa com outra pessoa, por exemplo. E na história esses fatores que impedem que eles fiquem juntos são as desculpas, medos, comodidades, indisposições e etc. Atualmente vivemos com vários mecanismos de comunicação à disposição de todos e cada vez mais as pessoas vivem isoladas e trancafiadas em suas residências, fazendo assim o papel das Medianeiras nas nossas vidas. Solidão, depressão, síndrome do pânico são algumas das consequências desse isolamento, o que distancia ainda mais as pessoas, dificultando a formação de novas relações amorosas.

E agora Bauman?

No livro Vida Líquida, Zygmunt Bauman descreve a sociedade “moderna líquida”. Essa sociedade é marcada pela inconstância, pela ausência e\ou impossibilidade de uma forma de vida social, as incerteza e a não prorrogação de hábitos e rotinas são normais. Aqui é essencial que nada perdure e que ninguém se apegue ou crie raízes para que um novo panorama surja sem dificuldade ou traumas. Porém o que isso tem a ver com o filme descrito acima?

A discussão de Bauman leva demonstra que a sociedade líquida que cria suspeitos, estranhos (ou estrangeiros), e traz ameaças ao convívio no espaço público. Esses problema tornaram-se mais evidentes com a globalização. É exatamente isso que o filme mostra em diversos momentos. As pessoas não mais saem para se conhecer, pois tem medo. O contato humano foi substituído pelo virtual. Tudo isso são defesas que usamos para nos defender seja de ameaças físicas (assaltos) ou mesmo psicológicas (coração partido).

E o filme?

Para mim Medianeiras foi um ótimo filme, agora não sei se o Bauman irá concordar com a minha opinião.

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