“Quando a qualidade o
decepciona, você procura a salvação na quantidade. Quando a
duração não está disponível, é a rapidez da mudança que pode
redimi-lo.” É a partir dessa palavras de Zygmunt Bauman em o livro
Amor Líquido que começo minha avaliação sobre o filme argentino
Medianeras, dirigido por Gustavo Taretto.
Há cenas no filme que
mostram claramente essas palavras do Bauman na realidade, sendo
vivenciadas por alguém (mesmo que seja na ficção). Uma delas é no
momento que o Martín (ator protagonista do filme), por ser
abandonado pela namorada, esta que já morava com ele a um tempo por
terem um relacionamento de anos – a qualidade o decepcionou –
começa a sair com outras mulheres que ele mal conhecia, apenas para
sair – salvação na quantidade.
Partindo dessa cena,
surgem outras considerações. Uma das mulheres que Martín saiu
passava o tempo inteiro que eles estavam juntos conectada no celular,
a todo momento mandando mensagens de texto (muitas até com
informações mentirosas), tanto que eles mal conversavam, mal se
olhavam. Como cita Bauman (2003):
Não
importa onde você está, quem são as pessoas à sua volta e o que
você está fazendo nesse lugar onde estão as pessoas. A diferença
entre um lugar e outro, entre um e outro grupo de pessoas ao alcance
de sua visão e de seu toque, foi suprida, tornou-se nula e vazia.
Seguindo
a mesma linha de raciocínio, Bauman completa: “Os aparelhos não
impediram que a mãe amamentasse o bebê... Mas tornariam
desnecessário que eles evitassem olhar-se nos olhos.”. Mas
não são apenas os aparelhos celulares que distanciam as pessoas: “A
proximidade virtual e a não virtual trocaram de lugar: agora a
variedade virtual é que tornou-se a “realidade”.”, como é
mostrado na cena em que o Martín tem a impressão de ter vivido
várias aventuras jogando videogame, mas, no entanto, nem do sofá
ele saiu.
Outra
citação presente no livro Amor Líquido que pode associar-se
perfeitamente a uma cena do filme Medianeras ou até mesmo a boa
parte do filme é a seguinte:
Nós
entramos em nossas casas separadas e fechamos a porta, e então
entramos em nossos quartos separados e fechamos a porta. A casa
torna-se um centro de lazer multiuso em que os membros da família
podem viver, por assim dizer, separadamente lado a lado.
No filme,
Martín é vizinho da Mariana, os dois frequentam os mesmos lugares,
gostam de muitas coisas em comum, vivem sozinhos e depressivos,
pensam em muitas coisas parecidas. No entanto, nunca tinham se olhado
nem prestado atenção um no outro. Mesmo tento tudo para se
encontrarem pessoalmente, os dois se conhecem pela internet.
Para
finalizar deixo aqui mais uma reflexão de Bauman sobre a internet,
mais precisamente o namoro na internet: “Terminar quando se deseje
– instantaneamente, sem confusão, sem avaliação de perdas e sem
remossos – é a principal vantagem do namoro pela internet”.
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