quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Amor Líquido em Medianeras



 “Quando a qualidade o decepciona, você procura a salvação na quantidade. Quando a duração não está disponível, é a rapidez da mudança que pode redimi-lo.” É a partir dessa palavras de Zygmunt Bauman em o livro Amor Líquido que começo minha avaliação sobre o filme argentino Medianeras, dirigido por Gustavo Taretto.

Há cenas no filme que mostram claramente essas palavras do Bauman na realidade, sendo vivenciadas por alguém (mesmo que seja na ficção). Uma delas é no momento que o Martín (ator protagonista do filme), por ser abandonado pela namorada, esta que já morava com ele a um tempo por terem um relacionamento de anos – a qualidade o decepcionou – começa a sair com outras mulheres que ele mal conhecia, apenas para sair – salvação na quantidade.

Partindo dessa cena, surgem outras considerações. Uma das mulheres que Martín saiu passava o tempo inteiro que eles estavam juntos conectada no celular, a todo momento mandando mensagens de texto (muitas até com informações mentirosas), tanto que eles mal conversavam, mal se olhavam. Como cita Bauman (2003):

Não importa onde você está, quem são as pessoas à sua volta e o que você está fazendo nesse lugar onde estão as pessoas. A diferença entre um lugar e outro, entre um e outro grupo de pessoas ao alcance de sua visão e de seu toque, foi suprida, tornou-se nula e vazia.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Bauman completa: “Os aparelhos não impediram que a mãe amamentasse o bebê... Mas tornariam desnecessário que eles evitassem olhar-se nos olhos.”. Mas não são apenas os aparelhos celulares que distanciam as pessoas: “A proximidade virtual e a não virtual trocaram de lugar: agora a variedade virtual é que tornou-se a “realidade”.”, como é mostrado na cena em que o Martín tem a impressão de ter vivido várias aventuras jogando videogame, mas, no entanto, nem do sofá ele saiu.

Outra citação presente no livro Amor Líquido que pode associar-se perfeitamente a uma cena do filme Medianeras ou até mesmo a boa parte do filme é a seguinte:

Nós entramos em nossas casas separadas e fechamos a porta, e então entramos em nossos quartos separados e fechamos a porta. A casa torna-se um centro de lazer multiuso em que os membros da família podem viver, por assim dizer, separadamente lado a lado.

No filme, Martín é vizinho da Mariana, os dois frequentam os mesmos lugares, gostam de muitas coisas em comum, vivem sozinhos e depressivos, pensam em muitas coisas parecidas. No entanto, nunca tinham se olhado nem prestado atenção um no outro. Mesmo tento tudo para se encontrarem pessoalmente, os dois se conhecem pela internet.

Para finalizar deixo aqui mais uma reflexão de Bauman sobre a internet, mais precisamente o namoro na internet: “Terminar quando se deseje – instantaneamente, sem confusão, sem avaliação de perdas e sem remossos – é a principal vantagem do namoro pela internet”. 

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