quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Relação dos elementos na introdução do livro “O que é o virtual”, de Pierre Levý, com o filme de Christopher Nolan, “Inception”


A ideia apresentada por Dom Cobb, no início do filme - de treinar o subconsciente de Sr. Saito contra “roubos” de informações durante os sonhos, por conta de extratores habilidosos, deixando-o mais apto a não baixar sua defesa durante os sonhos, tirando a vulnerabilidade - é virtual.

A confiança que Dom Coob exige do Sr. Saito, para que consiga penetrar em seus sonhos, se enquadra no campo da possibilidadeQuando Mal ameaça matar o colega de Dom Cobb, fala: “Matá-lo só irá acordá-lo. Mas a dor, ela está dentro da mente.” Deixa clara a ideia de dor como virtual, pois está vinculada à mente, sendo desterritorializada e não informatizada. A morte, neste plano onírico, seria incorporada como uma atualização, em que o indivíduo deixaria o sonho (virtual) e passaria para o plano real (atual). Coob mata-o dentro deste sonho, o que mais tarde é revelado que os personagens estavam dentro de outro sonho, inverte-se pois a denominação, passando a ser virtualização, tratando-se da morte no primeiro plano do sonho, em quem o indivíduo passa a vivenciar um outro sonho, continuando no virtual. Resumindo: Morrer num sonho dentro de outro sonho consiste na virtualização ( continua-se no virtual); e morrer em um sonho único, atualização (chega-se ao atual).

Sr. Cobb recebe a proposta de Saito para inserir uma informação dentro da mente de Fischer, filho de um grande concorrente seu. O pai dele em breve morrerá por conta da idade avança e péssimo estado de saúde, deixando a empresa como herança para o filho. Coob ganhará em troca deste serviço a oportunidade de ver seus filhos novamente, pois Saito se compromete em tirar as acusações contra ele - de ter matado a sua esposa. Saito deseja que este jovem tenha objetivo de “desmantelar o império do pai.” Porém, a proposta é feita com base na confiança de ambas as partes. Cobb não tem garantia de que Saito irá cumprir sua parte, mesmo sendo possível; e Saito não sabe se Cobb irá conseguir implantar as informações necessárias, tendo em vista a sua pouca experiência nesta prática – fez isto uma única vez, o que torna a ação também possível.

A imaginação é a condição básica para a implantação da ideia, sendo necessária a sua minimização, de modo que ela possa crescer naturalmente na cabeça da pessoa. A ideia é virtual e o crescimento natural é uma tendência à realizaçãoNo sonho é possível ver apenas projeções, vistas várias vezes no filme, como exemplo, a esposa de Cobb. O filme deixa bem claro a diferença entre vida real e sonho, deixando a vida real enquadrada ao atual, e o sonho, por aparecer de diversas maneiras, pode ser visto também por diferentes concepções.

Maurice Joseph pede que Cobb volte à realidade, esclarecendo a concepção de “não-realidade” do plano dos sonhos, sendo esta não necessariamente virtual, pois o real não se opõe a ela. Em uma parte do filme, o Sr. Cobb retrata bem isto na seguinte fala: “Os sonhos parecem reais enquanto estamos neles.” Podemos considerar os sonhos como atualizações na medida em que ocorrem mudanças na realidade de acordo com as intervenções ocorridas dentro dos sonhos. Ele também pode ser virtual, levando em conta sua plataforma sem existência material, sem presença e sem território fixo.

A arquiteta Ariadne é colocada dentro de um sonho compartilhado e compreende ter conversado durante uma hora com Sr. Cobb, no sonho, até que a questão da velocidade é posta: “Durante o sonho sua mente funciona mais depressa, por isso o tempo parece fluir mais devagar”, cabendo a classificação da virtualização, em que ocorre uma invenção de velocidade espaços-temporais mutantes. “5 minutos na vida real equivalem a uma hora de sonho”. A fala: “Os sonho tornou-se a realidade deles” – referente às pessoas que vão até Yusuf (químico) conectar-se para sonharem cerca de 4 horas seguidas, como única forma de poder sonhar – mostra a ideia de reinvenção de realidade. O sonho passa pelo Efeito Moebius, sendo considerado objeto alienador, em que o homem sofre reificação, redução à coisa, ao “real.”

“Nunca recrie lugares de suas memórias, sempre imagine lugares novos! […] Construir sonhos de memórias é o modo fácil de não distinguir a realidade do sonho” fala Coob, ao planejar sonhos sobrepostos de três níveis para arquitetar a inserção proposta no início do filme. Com uma equipe formada por seis pessoas, tais quais: O que fez a proposta (Saito) + Operador do plano (Sr. Coob) + Arquiteta (Ariadne) + ladrão falsificador (Eames) + químico (Yusuf) + filho herdeiro (Fischer). Com o suporte de um produto químico que os fazem terem sonhos profundos, é estipulada a duração de 10 anos dentro do sonho. Nestes, quando a pessoa morre vai para o limbo, não acorda.

A morte na vida real é a realização principal do homem, no sonho ela é uma passagem para o plano atual (atualização), e no sonho compartilhado, sobreposto e com forte sedativos, ela é um caminho para o limbo (espaço do sonho não construído, subconsciente infinito), que é o local em que sua esposa está presa por memórias que ele(Coob) construiu. Uma vez no limbo, esta passa a ser sua nova realidade. Coob e sua esposa já ficaram décadas presos lá, quando acordaram Mal estava diferente, achando que a realidade era de fato o limbo, e queria voltar, porém Coob soube diferenciar os planos. Queria “acordar para voltar à realidade” e acreditava que a morte (atualização) era a passagem para a realidade (atual).

Primeiro Plano: Saito sofre acidente com grande risco de morte. Segundo Plano: Dentro de uma van, onde o Yusuf é o único que não participa. Convencem Fischer a tentar descobrir o segredo do cofre com seu tio, Peter Browning, fazendo-o dormir. Todos entram no subconsciente do Fischer e vão para o Terceiro Plano. As diferenças das velocidades temporais dos sonhos dentro de outro também mudam, enfatizando a superfície virtualizada. Coob e Ariadne entram em outra camada de sonho (Quarto Plano), no mundo que Coob criara com sua esposa. Ele revela que já fez uma inserção em sua mulher, implantando a ideia nela de questionar a realidade. Faz uso de um totem, objeto potencialmente pensado para identificar quando o indivíduo está no sonho de outra pessoa – que é atual e pode ser levado para a plataforma virtual. É uma solução(atualização) para não perder a noção da realidade, pois ele é utilizado no plano virtual. Sua esposa havia escondido seu totem de modo estático, que lhe permitira saber se estava sonhando. “A verdade que ela conhecera, mas escolheu esquecer”. Até que Coob o descobre e por meio da infiltração coloca-o girando, implantando a ideia de que seu mundo não era real, fazendo a sua esposa pensar na morte como única solução. A ideia cresceu nela e mesmo quando voltaram para a vida real, ela não acreditou que estava de fato vivenciando aquilo.

Ao voltarem para a camada de sonho, onde se encontravam na van, Fischer prova o sucesso do planejamento: “O testamento significa que meu pai queria que eu fosse eu mesmo. Não que eu tentasse imitá-lo. É o que vou fazer, tio Peter”. Voltam para a vida real e Coob consegue ver seus filhos, como combinado, porém no encontro ele usa seu totem e o filme se encerra com este objeto em movimento – quando o totem gira é sinal de que a superfície não é real, algumas partes do filme mostra ele parando de rodar – o que deixa uma grande dúvida acerca da realidade, ademais na questão do fechamento do quadro no filme, em que não se sabe se ele ficou estático ou não.

Texto Giovânia de Alencar

Nenhum comentário

Postar um comentário

© SITe
Maira Gall